quinta-feira, 16 de abril de 2009

Produção de Uvas é alternativa para produtores do Interior do RJ

Texto: Vivian Schetini
Especial para o Jornal do Commercio

Matéria publicada em 6 de abril de 2009

O mercado fluminense vem se mostrando bastante promissor e amplo. A diversidade de produtos cultivados surpreende não só pelo grande número de espécies, mas principalmente por quais delas estão sendo plantadas. Quando falamos em lavoura de uvas, por exemplo, a primeira imagem que nos vem à mente é uma região fria, montanhosa, talvez no sul do país. Esta visão pode estar certa, mas está longe de ser única. No Rio de Janeiro, a produção de uvas está se apresentando como uma nova alternativa para os produtores, principalmente do Norte e Noroeste fluminense.

A presença dos parreirais em escala comercial em terras fluminenses é recente, cerca de oito anos. A iniciativa partiu dos proprietários do Sítio Pioneiro, em Cardoso Moreira que começou com o plantio da uva Itália, e depois introduziu a uva da espécie Niágara-rosada, pois se adaptava melhor.

A Secretaria Estadual de Agricultura está criando atividades e ações para estabelecer um pólo de produtores de uva no norte fluminense. A lavoura de uva está incluída no programa Frutificar. Com isso, os interessados poderão ter acesso a assistência técnica e financiamento.

Segundo o coordenador de Programas Setoriais da Secretaria de Agricultura do Estado, Ricardo Mansur, o Governo está constantemente buscando alternativas que deem maior rentabilidade ao produtor rural e, através do Frutificar, incentivar a diversificação de atividades.

“Com base nas diretrizes do Programa Moeda Verde Frutificar, estamos em contato permanente com os produtores buscando estruturar a cadeia produtiva. Além disto, temos procurado envolver as demais instituições que atuam no setor, como Sebrae e Firjan, bem como as prefeituras locais”, explica.

Para o produtor José Burbano, o clima do norte fluminense e muito propicio para a produção da fruta, porém é preciso cautela na época da chuva. “É necessário tomar cuidado com as doenças fúngicas” alerta.

A uva mais consumida e produzida no Rio de Janeiro é a Niágara rosada. “Provavelmente e a mais antiga uva de mesa produzida comercialmente no Brasil. Em nossa região esta variedade tem se adaptado muito bem”, destaca Burbano.

Recomendações

A uva é uma cultura altamente rentável. O sócio de Burbano, Edward Mckenna explica que é necessário um conhecimento técnico amplo para um bom resultado final no plantio. “Saber a época certa das podas, irrigação de forma adequada, adubação na hora e quantidade correta, tratos culturais durante a produção, colheita e pós colheita, são conhecimentos imprescindíveis para uma boa safra”, detalha.

José Burbano destaca que a viticultura é um trabalho extremamente gratificante, mas requer de muito conhecimento e especialmente dedicação. “Sem dúvida alguma eu recomendaria a todo produtor interessado fazer muita pesquisa. A quantidade de material didático sobre uva na internet e gigantesca. É a cultura mais estudada do mundo. Também é muito importante visitar produtores para compreender as complexidades da lavoura”.

Como primeiro resultado das ações do Governo do Estado, foi realizado em parceria com o Senar e apoio da Prefeitura de Cardoso Moreira um curso sobre o manejo da lavoura, objetivando uniformizar e consolidar o conhecimento técnico daqueles que já se encontram na atividade e ao mesmo tempo fornecer elementos de decisão para aqueles interessados em iniciar os cultivos.

O primeiro curso realizado pelo Senar abordou de maneira geral todas as fases do ciclo da lavoura. “Durante as aulas práticas realizadas em duas propriedades distintas, também procurou-se romover o intercâmbio dos conhecimentos já adquiridos pelos produtores, assim como uma maior aproximação entre eles. Este sentimento de confiabilidade será fundamental no futuro próximo”, explica Mansur. O Curso de Cultivo de Uvas foi realizado entre os dias 12 e 13 de março.

Segundo o coordenador, o interesse pelo curso, realizado nas dependências do escritório da Emater no município, superou as expectativas. “É importante que os produtores recebam capacitação antes de iniciar na atividade. Conhecendo as peculiaridades do seu cultivo é possível identificar se há real vocação para a produção. Além disso, evita possíveis erros na condução da lavoura”, enfatizou.

Durante o curso foram visitadas duas propriedades, uma em São Fidélis e outra em Bom Jesus do Itabapoana, onde a produção de uvas vem sendo desenvolvida há alguns anos, com êxito. Na ocasião, José Luis Burbano alertou aos participantes do treinamento que embora a região tenha vocação para a atividade, a viticultura tem os seus segredos e necessita ser vista de perto. “O sucesso da lavoura depende muito da dedicação e disponibilidade do produtor”.

Paralelamente a isto, o Programa Frutificar já está visitando produtores interessados e colhendo propostas de financiamentos destinados ao custeio da atividade, implantação e/ou ampliação das áreas de produção e aquisição de sistemas de irrigação. Os financiamentos somente serão concedidos uma vez, depois de verificada as condições técnicas de adaptação da cultura na propriedade e a capacidade gerencial do proponente na condução do projeto.

As expectativas de crescimento da viticultura no interior do Estado são boas, principalmente em função dos resultados já alcançados por alguns “pioneiros”. Mais recentemente, outros produtores, estimulados pelos resultados obtidos iniciaram seus cultivos e os resultados foram semelhantes.

“O número de participantes no curso e a sua repercussão nos fazem acreditar num rápido crescimento. Ainda não temos como prever o tamanho da área a ser explorada, nem a produção total a ser colhida na região. O que sabemos é que existem muitas áreas com potencial para a viticultura”, diz o coordenador.

Mansur diz ainda que pelo sistema de produção preconizado, “espera-se que os produtores alcancem a produtividade de 10 a 15 kg de uva por pé ao ano, após a estabilização da cultura. As lavouras já implantadas na região produziram nas primeiras safras algo em torno de 4 a 5 kg/pé”, especifica.

A cultura da uva tornou-se uma boa alternativa para os produtores das regiões Norte e Noroeste do Estado, em especial para aqueles localizados no município de Cardoso Moreira e seu entorno, como é o caso de São Fidélis, Italva, Campos dos Goytacazes e Bom Jesus do Itabapoana. “Há que se considerar ainda a possibilidade de expansão da cultura para os municípios do Estado vizinho, Espírito Santo”, detalha Mansur.

Ricardo Mansur completa que outro ponto a ser destacado tem relação com as épocas de safras das uvas produzidas nas regiões. “Em função do clima predominante nestas duas regiões do Estado, temos conseguido produzir uvas de excelente qualidade em épocas diferentes das regiões tradicionalmente produtoras. Isto proporciona maior competitividade, garantia de escoamento da produção e obtenção de preços compensadores”, ressalta.

Orientações técnicas

As técnicas são as mesmas utilizadas nas outras regiões produtoras. “Todo mundo segue a mesma cartilha. Não temos que inventar nada. O que é preciso é adaptar uma ou outra prática de manejo da lavoura às condições de clima e solo das nossas regiões" explica o coordenador.

De acordo com Ricardo Mansur, os interessados em iniciar na viticultura foram orientados a se cadastrar junto ao Programa Frutificar para receber visita de técnicos para orientar a lavoura. A uva está contemplada entre as dez espécies de frutas financiadas pelo Frutificar, da secretaria de Agricultura, para incentivo a fruticultura no estado. Novos cursos envolvendo a produção de uvas serão realizados em parceria com o Senar, acompanhando as etapas do ciclo da lavoura. O primeiro deles será sobre plantio.

Além deste trabalho de articulação e de reciclagem de conhecimentos, o Frutificar irá disponibilizar, por intermédio de parcerias e convênios, um técnico especializado no cultivo da uva que ficará responsável pelo assessoramento aos produtores.

“Pelo retrospecto e pela experiência subtraída daqueles que já se encontram explorando a atividade, estamos preconizando o sistema de cultivo em ‘latada’ com cerca de 1.800 plantas por hectare, irrigadas por gotejamento. A variedade da uva recomendada é a Niágara rosada, voltada para o consumo de mesa. Outras variedades também têm se mostrado promissoras, como a uva clara sem caroço”, afirma.

Além da viticultura, especificamente no caso da fruticultura, a Secretaria da Agricultura do Estado, por intermédio do Programa Frutificar, vem incentivando o cultivo de pelo menos dez espécies diferentes de frutas: abacaxi, maracujá, coco verde, goiaba, manga, banana, pêssego, uva, caju e citros.

Além das culturas tradicionais no Estado, como é o caso do abacaxi, maracujá e coco, merece destaque o trabalho que vem sendo realizado nos municípios do alto Noroeste, com a cultura do pêssego, em parceria com a Firjan, Sebrae, Ministério da Integração e Prefeituras locais. Trabalho semelhante, com base na mesma parceria, está para ser iniciado no Município de São José do Ubá, com a cultura da laranja. Esta mesma cultura está sendo revitalizada na região das Baixadas Litorâneas.

Para os produtores que queiram iniciar no ramo da viticultura, o primeiro passo é buscar todo tipo de informação a respeito da cultura e do mercado da fruta. Para isto, a sugestão é que o futuro produtor visite e converse com os atuais que já se encontram na atividade há algum tempo.

O produtor José Luis Burbano, proprietário da Fazenda Califórnia, em Bom Jesus do Itabapoana, é uma boa referência para os iniciantes, já que, antes de iniciar na atividade, fez exatamente isto e acabou se tornando um profundo conhecedor do assunto.

Conscientes das possibilidades e dificuldades, caso se sintam seguros e confiantes em ingressar no cultivo da uva, deverão procurar os Núcleos Regionais do Frutificar ou os Escritórios Locais da Emater Rio, para cadastramento e formulação de propostas, se necessitarem de financiamentos. “Pretendemos cadastrar todos os produtores, independente do interesse pelo crédito, de modo a envolvê-los nas ações de estruturação da cadeia produtiva”, detalha Mansur.

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