quarta-feira, 1 de abril de 2009

Na onda da saúde e preservação ambiental, orgânicos ganham mais espaço nas prateleiras

Texto: Vivian Schetini
Especial para o Jornal do Commercio

A crescente atração dos consumidores atuais por produtos que aliem a preservação do meio ambiente, durante as etapas de produção, aos cuidados com a saúde vem impulsionando o crescimento do número de adeptos dos orgânicos, que conciliam essas duas preocupações do homem moderno da forma mais simples possível, cultivando alimentos como antigamente: sem agrotóxicos.

A sócia diretora do Planeta Orgânico, Beatriz Martins Costa, afirma que estes produtos trazem vantagens para produtores e consumidores, além do benefício ambiental.

“Os produtos orgânicos são melhores para a natureza, já que não agridem o meio ambiente, não contaminam os lençóis freáticos nem o solo com resíduos de agrotóxicos. São bons para o consumidor que não ingere substâncias tóxicas, além de estar consumindo algo mais saboroso. E para o produtor, que não se expõe diariamente aos agrotóxicos, o que, a longo prazo, pode fazer muito mal à saúde”, esclarece.

A engenheira de alimentos da Ecobras, Thiana Esteves, explica que as principais vantagens de produzir alimentos orgânicos são o mercado diferenciado, com produtos de maior valor agregado e as grandes perspectivas de crescimento.

“Talvez a maior vantagem seja a possibilidade de continuação devido à sustentabilidade sócio-ambiental. São produtos isentos de agrotóxicos e aditivos químicos sintéticos potencialmente prejudiciais à saúde, preservam o sabor e os nutrientes originais de cada alimento, além da certeza de estar contribuindo para uma condição social e ambiental mais justa e equilibrada. Essa consciência ajuda na predisposição do consumidor em adquirir um produto orgânico. Além de serem melhores para a saúde, por não conterem pesticidas, os alimentos orgânicos também ajudam a preservar a terra da erosão, protegem as nascentes e os mananciais dos rios”, detalha a engenheira de alimentos.

A cultura orgânica, no entanto, ainda é pouco difundida. Thiana afirma que ainda existe pouco conhecimento do consumidor a respeito dos alimentos orgânicos, as informações são escassas. “Contudo, é crescente o número de pessoas interessadas em uma alimentação saudável e preocupadas com a preservação do meio ambiente impulsionando, ainda que lentamente, o mercado de alimentos orgânicos”. Para tentar solucionar o problema da falta de informação, Beatriz e Rosina Guerra fundaram o Planeta Orgânico . “O Planeta Orgânico nasceu quando percebemos a necessidade de criar, num só lugar, um banco de dados sobre produtos orgânicos, já que não havia nada parecido”. Beatriz conta que o site ganhou visibilidade e levou ao convite para trazer ao Rio de Janeiro a primeira edição brasileira da BioFach, que atualmente acontece em São Paulo.

Evento


Na edição deste ano da BioFach, realizada entre 23 e 25 de outubro, foram debatidos temas como logística e merenda escolar com a utilização de produtos orgânicos, além da questão da normatização do mercado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

“A merenda escolar é uma forma de fazer com as crianças se alimentem de forma mais saudável, evitando problemas futuros, e criem uma consciência de saúde e preservação da natureza. A regulamentação dos orgânicos no mercado é de suma importância, pois assim teremos controle
sobre quantos produtores existem, quanto é a produção, o que vai possibilitar acompanhar o crescimento do mercado. Conseqüentemente, poderá haver mais investimentos, benefícios e avanços em pesquisa e conhecimento”, afirma Beatriz.

Um dos grandes desafios para o setor de orgânicos é a logística, já que os produtos são perecíveis. A questão do transporte é considerada um ponto delicado. Os veículos precisam ser apropriados para armazenagem, de maneira que haja separação entre os alimentos. “Produtos frescos como hortaliças e frutas não podem ser transportados com alimentos convencionais para que não corra contaminação cruzada, além de serem necessários cuidados com refrigeração para garantir a qualidade do produto”, diz Thiana.

Refeição saudável

Em relação às escolas, explica, o objetivo é levar uma alimentação mais saudável e nutritiva para as crianças e assim, introduzir novos hábitos alimentares, educacionais e de proteção ambiental. “A alimentação sempre foi marcada por refeições em horários bem definidos. Antigamente as refeições eram feitas em volta da mesa com a família reunida, sem distrações que tirassem a concentração no ato de se alimentar. Isso não existe mais, o almoço em família está sendo substituído pelo lanche solitário em frente à televisão ou computador em horários fragmentados. Essas ações prejudicam o metabolismo e a saúde das pessoas. Consumindo produtos com agrotóxico tudo só piora”, analisa.

Na maioria das escolas particulares, que não servem a merenda tradicional típicas das escolas públicas, as cantinas vendem produtos industrializados que colaboram para uma alimentação artificial e de baixo valor nutricional. Paralelamente, os pais com pouco tempo para organizar o lanche das crianças, optam por produtos industrializados. Dessa forma, o lanche caseiro ficou “fora de moda” – questão cultural que faz com que as crianças cheguem a sentir vergonha de comer alimentos naturais.

Daí, nasceu a iniciativa de levar produtos orgânicos para as escolas, fazendo com que as crianças tenham mais valores em relação a boa alimentação. As escolas que desejam inserir a Educação Ambiental em seus estabelecimentos devem priorizar a questão da merenda escolar. Privilegiar os orgânicos na merenda é incentivar o movimento, dizem as especialistas, “participando da difícil tarefa de melhorar os hábitos alimentares e introduzir a criança como parte integrante do meio ambiente”.

Thiana Esteves explica que o custo varia de produto para produto. “Geralmente, o produto orgânico tem maior demanda por mão de obra, mas por outro lado não tem os custos relacionados à compra de defensivos agrícolas. Assim, a relação do custo de produção do alimento orgânico é por vezes maior que o custo de produção convencional. Contudo, é preciso considerar que a produção orgânica não gera passivos ambientais que precisarão ser custeados em um futuro imediato”.

A Ecobras iniciou sua atividade como produtora de alimentos em 1988, estando há 20 anos no mercado e se consolidando como referência em produtos de soja de qualidade, orgânicos e inovadores. “Produzimos alimentos orgânicos de soja, como tofu (queijo de soja), tofu defumado, Tofu tipo cottage, smart soy (pastas de tofu em 5 sabores), yosoy (iogurte de soja sabores morango, pêssego e baunilha com mel) e delisoy (sobremesa de soja com chocolate)”, detalha Thiana.

Para quem, quer se tornar produtor de orgânicos, ela indica que procure informar-se sobre as etapas necessárias à transição de produto convencional para orgânico, sobre o tamanho do mercado existente para o seu produto. “Planeje toda a ação e execute passo a passo de forma sólida, ainda que não seja tão rápida, isso pode garantir o sucesso do novo negócio”, recomenda.

Os produtos orgânicos mais consumidos no mercado carioca ainda são verduras e legumes, sendo crescente o consumo de alimentos processados como sucos, alimentos de soja, biscoitos e cereais.

Normatização

Sobre a normatização da produção dos orgânicos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento já vem pensando em meios para facilitar e controlar o trabalho do produtor. Segundo o Coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Rogério Dias, a elaboração das normas vem sendo criadas desde o ano passado. “Já tivemos a publicação do decreto 6.323 em dezembro de 2007 e agora, mais recentemente a Instrução Normativa nº 54, de 22 de outubro de 2008, que cria as Comissões da Produção Orgânica. Estão para ser publicadas ainda as Instruções normativas de Produção Vegetal Orgânica, de Produção Animal Orgânica, de Extrativismo Sustentável Orgânico, de Processamento de Alimentos Orgânicos e a de Mecanismos de Garantia e Informação da Qualidade Orgânica”, explica.

Os produtores sairão beneficiados, segundo ela, porque com a regulamentação passará a ter regras claras tanto para os produtores como para os consumidores e com isto será possível aumentar a confiabilidade dos sistemas orgânicos o que facilita a ampliação de mercados.
Com a entrada em vigor dos regulamentos, o Ministério passará a ter um Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos e um Cadastro Nacional de Atividades Produtivas. “Por meio deles, poderemos saber exatamente quantos são, o que produzem e onde estão os produtores orgânicos brasileiros. Essas estatísticas serão fundamentais para o planejamento de ações de fomento e também uma forte ferramenta para programas voltados a logística e mercado”, afirma Rogério.

As regras passam a valer a partir da publicação de cada Instrução Normativa. O Decreto prevê que todos têm até o final de 2009 para se ajustarem as novas regras. A partir de então será possível fazer um levantamento de quantos produtores orgânicos existem atuantes no mercado de cada Estado brasileiro. “Esse levantamento vai depender do ritmo com que os produtores forem sendo incorporados no novo sistema e conseqüentemente incluídos nos cadastros. Certamente a partir de 2010 teremos os números exatos”, explica Dias.

Após a obtenção dessas informações o Governo irá tomar novas medidas. “Esses dados são uma ferramenta fundamental para o estabelecimento de ações voltadas ao desenvolvimento da agricultura orgânica como: capacitação de técnicos e produtores, adequação de infra estrutura e logística para o mercado, desenvolvimento de pesquisas entre tantas outras”, conclui o coordenador.

Opção pela preservação
Alimento orgânico é aquele que, além de ser cultivado sem agrotóxico e adubos químicos, faz parte de um conjunto de ações que preservam a natureza e o homem, segundo os adeptos da corrente.Esse tipo de produto, para eles, integra um sistema de produção que equilibras as ações do homem com a natureza, o solo, as águas, sempre preservando para que não faltem as futuras gerações.

Assim, para se obter um alimento realmente orgânico, é preciso administrar conhecimentos de diversas ciências (agronomia, ecologia, sociologia, economia, entre outras) para que o agricultor possa ofertar ao consumidor alimentos que promovam não apenas sua saúde, mas também do planeta como um todo através de um trabalho harmonizado com a natureza.

É importante ressaltar que o produto hidropônico (produzido na água) não é orgânico pois utiliza adubos químicos solúveis. O sistema de cultivo orgânico observa as leis da natureza, respeita as diferentes épocas de safra e todo o manejo agrícola está baseado na preservação dos recursos naturais, além de respeitar os direitos de seus trabalhadores.

Para proteger a lavoura orgânica, os produtores se utilizam de formas naturais para combater as pragas. Como por exemplo, predadores naturais para combater as pragas e doenças, substituindo os pesticidas químicos com sucesso.

Na agricultura orgânica a atividade busca estabelecer o equilíbrio ecológico em todo o sistema. Busca a melhoria das condições do solo, que é a base da boa nutrição das plantas que, bem nutridas, assim as plantas não adoecerão com facilidade, podendo resistir melhor a algum ataque de um organismo prejudicial.

Desta forma, partindo da prevenção e do ataque às causas geradoras de desequilíbrio metabólico em plantas e animais, os métodos agroecológicos de manejo de tais organismos se tornam bem sucedidos à medida em que encaram uma propriedade do mesmo modo que um médico deveria olhar para uma pessoa: como um organismo”, uma individualidade única e repleta de interações dinâmicas e em constante mudança.

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